Cure-se ouvindo a sua doença


Cure-se ouvindo a sua doença

O estado natural do ser humano é a saúde e o bem-estar geral. Quando isso não acontece é prova de que há desequilíbrios entre o corpo, a mente e/ou o espírito. Os sinais desses desequilíbrios são as doenças, dores, tristezas, fadiga que tentamos ignorar ou eliminar, vendo-a como adversários, sem, contudo, mudar o que a causou.

Os sintomas do nosso corpo têm significados que vão para além do problema de saúde imediato para o qual nos estão a avisar. Podemos beneficiar emocional, física e espiritualmente se prestarmos atenção às mensagens que o corpo nos envia.

O estado de saúde de uma pessoa está intrinsecamente ligado à sua forma de viver, enquanto indivíduo. A consciência de que o contexto cultural em que vivemos afeta a nossa saúde é apenas o primeiro passo para a criação de um novo modelo para o bem-estar.

A maior parte das queixas físicas que surgem estão relacionadas com os cenários da vida duma pessoa. Assim, a informação sobre regimes alimentares, situações de trabalho e relações fornecem pistas para descobrir qual a fonte dos problemas dos seus corpos e os padrões de vida por detrás desses estados.

Conseguimos mudar quando tomamos consciência do mal-estar, físico ou emocional, que sentimos, bem como dos respetivos padrões de comportamento que nos prejudicam - sejam eles alimentares, relacionais ou emocionais.

Através de uma viagem ao nosso interior, uma abordagem metafísica da saúde convida-nos a descodificar sinais ou sintomas, percebendo as mensagens que determinada patologia nos quer revelar.

A recuperação profunda só acontece quando assumimos o controlo da nossa própria saúde e permitimos que seja a orientação interior a prevalecer, acreditando na sabedoria do nosso próprio corpo.


Compromisso

O passo seguinte deve ser o compromisso de mudar esses padrões, comprometendo-nos a viver, a criar e a gozar a saúde, o equilíbrio e a liberdade a todos os níveis.

Sem o compromisso de olhar para todos os aspetos da vida de uma pessoa, melhores hábitos e dietas, só por si, não são suficientes para produzir uma cura eficiente e definitiva em patologias que estão presentes há muito tempo. Isto requer que cada um faça o seu melhor, lembrando que ninguém pode determinar a nossa vida por nós.

Só nós podemos fazer coisas por nós mesmos e precisamos de nos esforçar conscientemente para o fazer.

A doença é um mensageiro a tentar captar a nossa atenção, um sinal que nos convida a olhar para nós e a sentir o nosso interior.

Muitas vezes ignoramos a fadiga, a fome, o desconforto, ou a necessidade de nos cuidarmos e alimentarmos convenientemente, vemos o corpo como adversário, especialmente quando nos está a enviar mensagens que não queremos ouvir. A cultura em que estamos inseridos ensina-nos a ignorar e muitas vezes a eliminar este corpo mensageiro, bem como a própria mensagem. Contudo, o corpo é o melhor sistema de saúde que temos.

Foi-nos ainda ensinado que é suposto o nosso sistema de tratamento de doenças manter-nos saudáveis. É normal recorrer aos médicos sempre que temos preocupações relativas à nossa saúde, física ou mental, como se fosse suposto os médicos saberem mais acerca dos nossos corpos do que nós.

Toda a sociedade funciona de forma a manter-nos afastados do que interiormente sabemos ou sentimos, duvidando dessa sabedoria.

Contudo, podemos aprender a confiar na ligação entre a nossa orientação interior e as nossas emoções. Os sentimentos são factos. É preciso dar-lhes atenção.

A desconexão com o nosso interior mantém-nos num estado de dor, de vazio e de infelicidade que aumenta quanto mais o negamos. Muitas vezes as substâncias aditivas a que se recorre, como álcool, drogas, alimentação compulsiva ou excesso de trabalho, servem para evitar que nos confrontemos com essa infelicidade e essa dor.

Por exemplo, cada obeso adulto está esclarecido quanto ao que deve comer. Normalmente o que precisa não é de mais informação nutricional. Primeiro precisa de sentir a dor que a comida em excesso está cronicamente a camuflar. Só depois pode participar na sua própria recuperação. Isto só acontece quando assumir o controlo da sua própria saúde e permitir que seja a sua orientação interior a prevalecer, acreditando na sabedoria do seu próprio corpo.


O Processo

A Consciência cria o corpo. Os nossos corpos são constituídos por sistemas de energia dinâmica que são afetados pelas nossas dietas, relações, pensamentos, hereditariedade e cultura, e pela interação de todos esses fatores. A cura só pode ser eficiente após a tomada de consciência e a mudança de algumas das crenças e pressupostos que todos nós, inconscientemente, herdámos e interiorizámos da nossa cultura ou retivemos da nossa experiência.

As emoções e pensamentos têm efeitos profundos em nós. Os fatores psicológicos e emocionais influenciam a nossa saúde física, já que as nossas emoções e pensamentos são sempre acompanhados por reações bioquímicas no nosso corpo. A unidade corpo-mente pode ser compreendida quando olharmos para nós mesmos como um sistema de energia em permanente mudança que é afetado e afeta a energia à sua volta. Não acabamos onde acaba a nossa pele.

Todas as emoções, mesmo aquelas que não são expressas ou que são reprimidas, provocam efeitos físicos. Têm tendência a ficar no corpo como pequenas “bombas relógio”: são doenças em período de incubação. O corpo tenta muitas vezes chamar a nossa atenção para “a cena do crime” para nos ajudar a curá-lo. A doença não é o inimigo, pelo contrário, faz parte do nosso sistema de orientação interior.


A Mudança


Um primeiro passo para fazer uma mudança positiva na sua vida e na sua saúde passa por identificar a experiência que está a atravessar, dar-se a oportunidade de a sentir em pleno, tanto emocional, espiritual ou fisicamente.

A dependência ou adição é, em grande parte dos casos, a origem de muitos problemas de saúde. E esta dependência pode verificar-se a diversos níveis como de alimentos, drogas, tabaco, álcool, de relações, sexo, compras, poder, trabalho ou outras. Neste processo, assume-se que algo ou alguém exterior vai tomar conta de nós ou vai fazer-nos sentir melhor porque assumimos que não somos capazes de o fazer sozinhos.

Ao identificar intelectualmente uma experiência, há que perceber qual a reação que ela provoca no corpo, deixando-se senti-la fisicamente. Fazer isto liberta energia emocional e física que foi presa, amontoada, negada ou ignorada durante anos. Quando nos permitimos sentir exatamente como sentimos, sem julgamentos, sem hipocrisia, começamos a libertar a nossa energia e só nessa altura poderemos caminhar em direção àquilo que queremos para nós.

Não conseguimos ser felizes e saudáveis enquanto o sistema aditivo viver dentro de nós. Se não identificarmos as formas como diariamente cooperamos com esse sistema que nos destrói, corremos o risco de funcionar como eternas vítimas, optando por culpar os outros pelos nossos problemas.

A verdadeira mudança começa com a intenção de assumir a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos e pela sua vida. Ninguém pode criar saúde por outra pessoa e ninguém tem a resposta certa para o outro. Só a própria pessoa pode ter acesso à sua orientação interior, quando estiver preparada para mudar.

Muitas pessoas não estão em empregos e famílias que apoiem realmente a sua saúde. Mas se começarem a dar valor profundo ao que são, identificando comportamentos dependentes e comprometendo-se a viver as suas vidas de forma preenchida, alegre, autónoma e livre, os empregos e os ambientes que as rodeiam começam a mudar.

Os pensamentos e a consciência influenciam a nossa vida. Cabe a nós decidir o que queremos fazer dela.

Paula Duarte

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