Agostinho da Silva e um conselho precioso aos pais

A pior traição que podemos cometer perante o moço que se aproxima para que lhe digamos a Verdade é ocultar-lhe que para nós essa verdade se encontra tão longínqua e velada como a ele se apresenta. Se lhe damos por certeza o que se mostra duvidoso enganamos a confiança que o levou a dirigir-se-nos; se lhe não fizermos ver todas as fendas dos paços reais arriscamos a sua e a nossa alma a um desastre que nenhum tempo futuro poderá reparar. Os que julgou mais nobres enganaram-no; era cego, pediu guia, e levaram-no a abismos; nunca mais a sua mão se estenderá aberta e franca a mãos humanas. Quanto a nós mesmos, que valor tem a causa se para lhe darmos dinamismo a deformamos, a mergulhamos em parte na sombra da mentira?


Não é nosso ideal, e por isso lutamos, formar os bandos inconscientes e os prontos cadáveres que às nossas ordens obedeçam; salvar-se-á o mundo pelos espíritos claros, tenazes ante o certo, ante o incerto corajosos; só eles sabem medir no seu justo valor e vencer galhardamente toda a barreira levantada; só eles encontram, como base do ser, a marcha calma e a energia inesgotável. É ilusória toda a reforma do colectivo que se não apoie numa renovação individual; ameaça a ruína a todo o movimento que tornarem possível a ignorância e a ilusão. Acima de tudo coloquemos a franqueza e os abertos corações; das dúvidas que se juntam podem surgir as fórmulas melhores; vem mais lento o triunfo, mas vem mais sólido; a ninguém se arrastou, todos chegaram por seu pé.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

obrigado

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