«Não te preocupes tanto com o teu karma passado. Ocupa-te do teu karma futuro, pelas escolhas, acções e pensamentos que escolhes nutrir e alimentar agora mesmo.
O que é que te adianta quem foste, o que fizeste, o que não devias ter feito, a não ser para que possas mudar, e o faças no presente?
O que é que interessa o que 'fizeram de ti?' O que interessa a infância que tiveste, as oportunidades que não te deram, as injustiças que rotulaste como tal (e, deixa-me adivinhar, estavas demasiado ocupado a rotular as tuas para reparares sequer nas injustiças aos outros)...
O que é que interessa se alguém teve mais sorte, na parcialidade limitada e limitadora do teu julgamento? Acreditas sinceramente que alguém está interessado nas tuas desculpas e justificações? Estás, tu próprio, interessado em desculpas e justificações? Não estás. Pois não. O que te leva a pensar que os outros estejam?
O que interessa, e o que adianta, se escolhes perder a tua energia vital com a tua lamentação infinita e com os culpados da tua revolta, da tua desadaptação, da tua miséria, se escolhes perder a vida a queixares-te do que não tens, do qe não ganhas, do que os outros têm mais do que tu, de tudo o que nao viveste? Acreditas sinceramente que alguém deveria tomar conta de ti?
O que interessa, sim, é o que tu queres fazer de ti próprio, o que estás disposto a dar de ti próprio para ser diferente, para pensar diferente, para sentir diferente, para fazer diferente, para atrair diferente, para interpretar diferente, para reagir diferente, para mostrares diferente, para conquistares diferente.
O que interessa é o que podes, o que queres, o que vais, o que escolhes.
O que interessa é que ainda vais a tempo de tomar conta de ti próprio.
Não te lamentes pelo que não podes mudar, toma a firme decisão de mudar o que ainda estás a tempo de mudar, e isso é todo o teu destino.
Tudo o que fazes, e esse é o maior paradoxo, só é possível pela liberdade que tens de criar as tuas prisões futuras - e a tua liberdade actual é a que construíste para ti próprio no passado.
Estás a construir o teu futuro. Agora mesmo. Aqui e agora. Estás. Sabe disso. Recorda-o. Estás a construir o teu futuro. Precisas sabê-lo, convencer-te disso, recordá-lo, lembrá-lo a cada instante.
Recorda o impossível, recorda o agora. Esquece a memória. Estás a construir o futuro com cada pequeno pensamento, com cada escolha grande ou pequena, com cada expiração.
Presta atenção ao que dizes, ao que pensas, ao que fazes, ao que sentes. Encontras alguma relação entre a tua própria vida e aquilo que dizes sobre ela? Sim, eu sei, o que dizes sobre as experiências, dizes depois das experiências, mas antes disso já as pensavas assim. Eu sei, custa a acreditar, mas tu já tinhas essas experiências dentro de ti antes de as viveres. Não tinhas a experiência concreta, mas tinhas o tema genérico, as linhas gerais, a qualidade específica do desafio. O que não havia era a situação concreta e a tua resposta à situação. Essa é, e sempre foi, da tua responsabilidade - do teu poder.
A experiência apenas te forneceu material para verbalizares, carne sangue e músculos para um esqueleto que já existia, a anatomia da tua psique particular. Eu sei que te pode custar a aceitar, mas a tua tarefa pessoal é simultaneamente uma tarefa universal, e tu tens uma maneira única de a concretizar - dando tu a tua própria resposta às perguntas universais que a Vida faz através dos acontecimentos concretos da tua vida. Os temas são universais, as circunstâncias são particulares, as respostas são as tuas - e são únicas.
E depois vais ao psicanalista e despejas o saco dos conteúdos dos arquétipos, e fazes bem, mas a estrutura dos arquétipos é colectiva, porque é prévia à tua existência. A tua neurose é única e universal ao mesmo tempo, a tua infância foi imperfeita porque é da natureza da infância ser imperfeita, embora hajam diversos arranjos possíveis e miríades de infâncias imperfeitas e miríades de agentes humanos para fazer cumprir os dramas cósmicos.
O teu analista conhece o teu caso de centenas de outros pacientes, e dos livros, e da supervisão, e da sua própria análise. As mesmas personagens no teu psiquismo movem-se também no psiquismo dos outros, embora narrando outras histórias, comportando-se de outra maneira, relacionando-se de maneiras distintas, querendo de maneiras diferentes fundamentalmente as mesmas coisas, ou mais de uma, ou mais de outra. Os arranjos diferem, o conteúdo concreto também, porque é preenchido com as experiências concretas de vidas tão diferentes quanto o número de indivíduos que existem. Mas a estrutura arquetípica e a qualidade essencial das perguntas, essa é colectiva, Humana, reencenada de maneiras diferentes por diferentes poderes, simbolizados como os deuses, as sub-personalidades, as partes, os daimons que se movem dentro de ti.
O que é interessante é conheceres essa personagens do teu psiquismo, aprenderes a dialogar com elas, a reconciliar-te contigo próprio.
És tu, no fundamental, o prisioneiro, a cela e a chave.
És livre, em essência, de te tornares em quem queres, limitado apenas por quem és, inspirado por quem nasceste para Ser, destinado a Seres Quem És, a Tornares-te novamente em Ti próprio.
Não fujas de ti mesmo. É na Sombra que evitas que habita a Luz que te pode guiar.
Que mania essa de andares a querer sair de ti próprio sem te seres primeiro.»
Nuno Michaels in Armazéns Astralhógicos
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